domingo, 8 de novembro de 2015

ALÉM DO ENTENDIMENTO

Tu me perguntaste como me atrevi
a pôr em dúvida a tua sabedoria,
visto que sou tão ignorante.
É que falei de coisas
que eu não compreendia,
coisas que eram maravilhosas
demais para mim
e que eu não podia entender.
Jó 42.3 (leia 42.1-17) – NTLH

O sofrimento de Jó era atroz. Sua situação social e econômica: deprimente!... Mas o seu estado de espírito mudou. Seus questionamentos e exigências foram aceitos por Deus, sendo respondidos através de tempestades e por meio de perguntas com respostas impossíveis. Neste processo, Jó recebeu uma nova visão. Mesmo, não recebendo nenhuma resposta esperada e ainda no meio de grande dor, Jó viu a grandeza do Criador e da sua criação. Aprendeu a viver pela fé... O sofrimento também faz parte da ordem da criação e não anula a vida. Jó chegou a confessar a experiência da presença de Deus, mesmo sentado no chão, num monte cinzas...

A posterior restauração de Jó era secundária na história, não o resultado da sua nova visão. A desgraça de Jó e a sua restauração nada tinham com méritos ou falhas!...

Temos muita dificuldade em aceitarmos a tese de sofrimento, desvinculado de merecimentos pessoais. Pregamos a mentira que a aceitação do evangelho é solução de todos os nossos problemas. O “evangelho da prosperidade” promete ascendência econômica e social. Jesus nunca prometeu riquezas e status como recompensa de uma vida de acordo com a vontade de Deus. Pelo contrário, chamou seus seguidores a tomar, diariamente, a sua cruz e estarem preparados para enfrentar rejeição, perseguição e sofrimento. No Sermão do Monte, Jesus fala em sofrimento pelo bem como fonte de felicidade.

Erramos ao modificarmos a mensagem do evangelho, visando atrair multidões, enchendo templos de pessoas buscando grandes “bênçãos”. Na ocasião de uma cerimônia de ordenação de novos presbíteros, ouvi um bispo metodista exortar os pastores: “Sua tarefa é encher os templos antes de Jesus voltar”. Na prática de evangelização capitalizamos o sofrimento e miséria do povo, prometendo “mundos e fundos” para quem “vem a Jesus”. Jesus nunca fez tais promessas.

Jó chegou a ver que Deus é Deus, independente da sorte, e, que a vida em harmonia com o Criador e a criação não é garantia do bem estar pessoal.

Não somos isentos das desgraças que atingem a humanidade. A aceitação do evangelho pode dar alívio ao sentimento de culpa de libertação de alguns males, mas, pode criar outros problemas. O “novo enxergar” do cego pode levá-lo a ver, além de novas belezas, cenas trágicas que perturbam o coração. O “novo andar” do coxo pode fazê-lo pular de alegria, mas, também, conduzi-lo a caminhos onde há rejeição e perseguição e traição de amigos e familiares.

A lição de Jó não é de fatalismo, mas de esperança realista! Somos ignorantes diante dos acontecimentos trágicos da humanidade e das violências da natureza. O caos da existência é apenas aparente. O universo não está fora de controle. Podemos ver a mão de Deus, até naquilo que nós julgamos ser desgraça.

Jó era justo e temente a Deus, mas, mesmo assim, sofreu grandes desgraças. Mesmo recebendo uma recompensa negativa, continuou no caminho do bem. Fazer o bem pode não nos trazer as recompensas desejadas. O caminho da paz e da justiça pode, aparentemente, não dar em nada. O valor da caminhada é a própria caminhada, independente de resultados.


JÓ 42:1-17 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)
Então, em resposta ao Senhor, Jó disse:
“Eu reconheço que para ti nada é impossível e que nenhum dos teus planos pode ser impedido.
Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida a tua sabedoria, visto que sou tão ignorante.
É que falei de coisas que eu não compreendia, coisas que eram maravilhosas demais para mim e que eu não podia entender.
Tu me mandaste escutar o que estavas dizendo e responder às tuas perguntas.
Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos.
Por isso, estou envergonhado de tudo o que disse e me arrependo, sentado aqui no chão, num monte de cinzas.”

CENA FINAL
Depois que acabou de falar com Jó, o Senhor disse a Elifaz, da região de Temã:
— Estou muito irado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram a verdade a meu respeito, como o meu servo Jó falou. Agora peguem sete touros e sete carneiros, levem a Jó e ofereçam como sacrifício em favor de vocês. O meu servo Jó orará por vocês, e eu aceitarei a sua oração e não os castigarei como merecem, embora vocês não tenham falado a verdade a meu respeito, como Jó falou.
Então Elifaz, que era da região de Temã, Bildade, que era da região de Sua, e Zofar, que era da região de Naamá, foram e fizeram o que o Senhor havia mandado, e ele aceitou a oração de Jó.

A NOVA FAMÍLIA DE JÓ
Depois que Jó acabou de orar pelos seus três amigos, o Senhor fez com que ele ficasse rico de novo e lhe deu em dobro tudo o que tinha tido antes. Todos os seus irmãos e irmãs e todos os seus amigos foram visitá-lo e tomaram parte num banquete na casa dele. Falaram de como estavam tristes pelo que lhe havia acontecido e o consolaram por todas as desgraças que o Senhor havia feito cair sobre ele. E cada um lhe deu dinheiro e um anel de ouro.
O Senhor abençoou a última parte da vida de Jó mais do que a primeira. Ele chegou a ter catorze mil ovelhas, seis mil camelos, dois mil bois e mil jumentas. Também foi pai de sete filhos e três filhas. À primeira deu o nome de Jemima; à segunda chamou de Cássia; e à terceira, de Querém-Hapuque. No mundo inteiro não havia mulheres tão lindas como as filhas de Jó. E o pai as fez herdeiras dos seus bens, junto com os seus irmãos.

Depois disso, Jó ainda viveu cento e quarenta anos, o bastante para ver netos e bisnetos. E morreu bem velho.

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