domingo, 28 de fevereiro de 2016

PAIXÃO

Venha então, minha querida;
venha comigo, meu amor.
O inverno já foi,
a chuva passou,
e as flores aparecem nos campos.
É tempo de cantar!
Venha comigo, minha querida.
Cântico dos Cânticos 2.10b-12a,13b (leia 2.8-13) – NTLH

O amor erótico faz parte da vida. O Livro dos Cânticos está entre as literaturas mais eróticas do mundo! É uma canção exaltando os prazeres do amor físico. Registra o diálogo entre dois apaixonados, um se entregando ao outro! A tradução não consegue transmitir para a nossa cultura a riqueza erótica das imagens. Na cultura hebraica, as imagens transmitem os prazeres do cheiro, sabor, tato e orgasmo. É paixão pura, sem falar em noivado, casamento, família ou filhos... É êxtase só, sem amarras culturais ou religiosas. É o delírio da libertação, sem neuroses e preconceitos.

Representa uma expressão da contracultura, protestando contra a opressão da mulher e do corpo, de uma religião controladora. A religião institucional tratava a mulher como ser inferior. Os órgãos sexuais eram vergonhosos, as funções reprodutivas impuras e o corpo, suspeito. O Cântico dos Cânticos rompe estas barreiras. A paixão é maravilhosa quando curtida na sua plenitude!...

Este livro é problemático para as igrejas, muitas vezes ignorado. Quando timidamente mencionado, é tratado como uma alegoria do amor entre Cristo e a Igreja. Mas, neste livro, Deus não é mencionado nenhuma vez. Outras vezes é interpretado como amor entre esposo e esposa, devidamente casados diante das normas da Igreja. As igrejas não conseguem aceitá-lo sem disfarçá-lo ou colocar controles e restrições.

Uma das características do cristianismo e islamismo é a rejeição do corpo humano, especialmente o feminino. O corpo é vergonhoso e deve ser escondido. A nudez é tabu. As culturas primitivas não têm este problema. Aceitam o corpo com toda a naturalidade. A revista, Playboy, não faria sucesso numa tribo indígena, seria até tediosa. Faz sucesso em nossa cultura porque somos neuróticos em relação ao sexo. Este tipo de literatura é alimentado pelas neuroses culturais.

Outro fator agravante nas religiões monoteístas é o machismo, o controle do homem sobre a mulher. Os homens impõem restrições sobre ela. Ela tem que ser mais “modesta” do que o homem. Exercem um duplo padrão de moral a favor do sexo masculino. Mas nos Cânticos, ambos os sexos são livres para curtir a sua sensualidade.

Chegou a Primavera! O Inverno passou! A vida está brotando. As plantas estão despertando para a reprodução com as floradas. As rolinhas estão dando suas cantadas. A cantada e a sedução fazem parte do amor. O mundo está cheio da beleza de uma sinfonia de cores, sons, aromas e sabores. É tempo da paixão!...

Paixões sexuais são passageiras, mas podem nos levar à paixão pela vida inteira e a fé que a vida vale a pena! A vida pode se tornar encantadora, mesmo com frustrações e obstáculos. A fé pode abrir novos mundos encantadores, cada momento uma surpresa, cada dia, uma aventura. O tédio é sinal da morte, a paixão da vida!...

A paixão leva a pessoa a ficar fora de si. Supera os limites da lógica. Enfrenta obstáculos e ultrapassa barreiras. Fé e paixão são irmãs. Veem a beleza e se doam ao amado. Desejo a fé que me apaixone pela vida e toda a criação, sendo a terra minha querida e o universo meu amor.

CÂNTICO DOS CÂNTICOS 2:8-13 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)

Ela:
Estou ouvindo a voz do meu amor.
Ele vem depressa, descendo as montanhas,
correndo pelos montes.
O meu amado é como uma gazela;
é como um filhote de corço.
O meu querido está ali, do lado de fora da nossa casa.
Ele está olhando para dentro, pelas janelas;
está me espiando pelas grades.
O meu amor está falando comigo.

Ele:
Venha então, minha querida;
venha comigo, meu amor.
O inverno já foi, a chuva passou,
e as flores aparecem nos campos.
É tempo de cantar;
ouve-se nos campos o canto das rolinhas.
Os figos estão começando a amadurecer,
e já se pode sentir o perfume das parreiras em flor.
Venha então, meu amor.
Venha comigo, minha querida.



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