domingo, 30 de agosto de 2015

FÉ? LOUCURA?


Abraão fez um altar
e arrumou a lenha em cima dele.
Depois amarrou Isaque
e o colocou sobre o altar,
em cima da lenha.
Em seguida pegou a faca para matá-lo.

Gênesis 22.9-10 (leia 22.1-19) – NTLH

Aqui temos a história de um pai disposto a matar seu próprio filho em nome de Deus. Um filho traumatizado ao ser amarrado, vendo uma faca erguida, pelo próprio pai, para ser enfiada no seu peito. Abraão usou a mentira para seduzir seu filho a acompanhá-lo, mas voltou para casa sem a companhia do filho. O relato bíblico reúne pai e filho outra vez somente na ocasião do enterro do pai. O trauma afastou o filho do pai. Esta história vem duma cultura bem diferente da nossa e aponta Abraão como herói da fé. Para nossa cultura este comportamento seria avaliado como loucura, absurdo e insanidade. Hoje Abraão seria candidato a ser internado num hospício ou encarcerado numa instituição penal, visto como perigo para a sociedade e a família.

Existe neste episódio um elemento da personalidade que opera em ambas as culturas: a necessidade da afirmação da fé. Abraão estava dando prova da sua fé. O problema é que esta “prova de fé” ia onerar a vida alheia. Era uma prova negativa que não construiria nada. Era destrutiva. Logo em seguida Sara morreu e Isaque sempre foi uma figura apagada de pouca expressão. Só deu prejuízo.

Quais são alguns “sinais de fé” da nossa cultura religiosa?

·       O engajamento nas atividades religiosas.

·       Assiduidade nos cultos e reuniões de oração.

·       O dom da palavra e de liderança.

·       A possessão de dons espirituais: profecias, línguas e milagres, etc.

·       Modismos: dente de ouro, riso santo, toque do poder, encontro com Deus, G12, etc.

Esses são alguns dos elementos associados à fé. Quanto maior a exteriorização destes elementos, maior a fé. Os protestantes se orgulham de seu crescimento nos últimos cem anos, especialmente nas últimas décadas. 25% da população professa a fé evangélica. É difícil encontrar um bairro sem igreja evangélica. Os grandes templos são comuns nos grandes centros urbanos. A fé até conquistou redes de TV!...

Até que ponto as “provas de fé” são construtivas em nossa realidade social?

A “fé” dos pais pode chegar a prejudicar os filhos quando a igreja se torna mais importante do que o lar. Quantos filhos de crentes não querem nada com a igreja por causa da incoerência dos pais? Quantos filhos de pastores ignoram a igreja ou a vêem com antipatia por ela ser colocada em primeiro plano? Relacionamentos humanos podem “azedar” quando “princípios” e “convicções” religiosos tomam lugar do amor ao próximo. Quantos crentes são vistos como pessoas chatas e esquisitas por serem implicantes e anti-sociais por causa da sua religião? Comunidades podem ser prejudicadas quando as igrejas se isolam e formam “guetos” de fervor religioso. É preocupante quando o número crescente de evangélicos é acompanhado pelo aumento de violência, criminalidade e corrupção. Muitos políticos evangélicos estão envolvidos em escândalos de desvio de dinheiro. As “provas de fé” somente servem para fazer seus praticantes se sentirem mais santos, mas trazem poucos benefícios à vida alheia.

A fé não é auto-afirmação. A fé verdadeira nos leva a sermos bênçãos aos que nos cercam. O centro de atuação da fé verdadeira é o mundo, não a igreja. “Deus amou ao mundo de tal maneira.......” Nosso desafio é amar o mundo como Jesus o amou.

GÊNESIS 22.1-19 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)

DEUS PÕE ABRAÃO À PROVA

Algum tempo depois Deus pôs Abraão à prova. Deus o chamou pelo nome, e ele respondeu:

— Estou aqui.

Então Deus disse:

— Pegue agora Isaque, o seu filho, o seu único filho, a quem você tanto ama, e vá até a terra de Moriá. Ali, na montanha que eu lhe mostrar, queime o seu filho como sacrifício.

No dia seguinte Abraão se levantou de madrugada, arreou o seu jumento, cortou lenha para o sacrifício e saiu para o lugar que Deus havia indicado. Isaque e dois empregados foram junto com ele. No terceiro dia, Abraão viu o lugar, de longe. Então disse aos empregados:

— Fiquem aqui com o jumento. Eu e o menino vamos ali adiante para adorar a Deus. Daqui a pouco nós voltamos.

Abraão pegou a lenha para o sacrifício e pôs nos ombros de Isaque. Pegou uma faca e fogo, e os dois foram andando juntos. Daí a pouco o menino disse:

— Pai!

Abraão respondeu:

— Que foi, meu filho?

Isaque perguntou:

— Nós temos a lenha e o fogo, mas onde está o carneirinho para o sacrifício?

Abraão respondeu:

— Deus dará o que for preciso; ele vai arranjar um carneirinho para o sacrifício, meu filho.

E continuaram a caminhar juntos.  9 Quando chegaram ao lugar que Deus havia indicado, Abraão fez um altar e arrumou a lenha em cima dele. Depois amarrou Isaque e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Em seguida pegou a faca para matá-lo. Mas nesse instante, lá do céu, o Anjo do Senhor o chamou, dizendo:

— Abraão! Abraão!

— Estou aqui — respondeu ele.

O Anjo disse:

— Não machuque o menino e não lhe faça nenhum mal. Agora sei que você teme a Deus, pois não me negou o seu filho, o seu único filho.

Abraão olhou em volta e viu um carneiro preso pelos chifres, no meio de uma moita. Abraão foi, pegou o carneiro e o ofereceu como sacrifício em lugar do seu filho. Abraão pôs naquele lugar o nome de “O Senhor Deus dará o que for preciso.” É por isso que até hoje o povo diz: “Na sua montanha o Senhor Deus dá o que é preciso.”

Mais uma vez o Anjo do Senhor, lá do céu, chamou Abraão e disse:

— Porque você fez isso e não me negou o seu filho, o seu único filho, eu juro pelo meu próprio nome — diz Deus, o Senhor — que abençoarei você ricamente. Farei com que os seus descendentes sejam tão numerosos como as estrelas do céu ou os grãos de areia da praia do mar; e eles vencerão os inimigos. Por meio dos seus descendentes eu abençoarei todas as nações do mundo, pois você fez o que eu mandei.

Abraão voltou para o lugar onde estavam os seus empregados, e foram todos juntos para Berseba, onde Abraão ficou morando.

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