domingo, 13 de dezembro de 2015

SAINDO DO APRISCO

Na tua casa, ó Deus Eterno,
morarei todos os dias da minha vida.
Salmo 23.6b (leia 23.1-6) - NTLH

Nascemos para crescer. Nascer e não crescer é trágico. Aprendemos a engatinhar, andar, falar, vestir, viver sem fralda, alimentar, cuidar, ir à escola e assumir responsabilidades. Tudo correndo normalmente, chegamos à maturidade: sairmos da casa dos nossos pais para estabelecer um outro lar e a nossa própria profissão. Conquistamos a nossa autonomia.

O aprisco do Salmo 23 representa o berço: o tempo de infância e da imaturidade, o tempo da aprendizagem primária. Poucos reparam que neste Salmo a ovelha pára de ser ovelha e passa para outro estágio (hóspede). Na igreja somos ensinados a glorificar a “ovelhice” e nos manter “ovelhas para sempre’. No conceito popular, bom cristão é uma boa ovelha. Servimos a igreja dando a nossa lã e o nosso sangue. Somos muito úteis para a igreja no estado de ovelha.

No nosso texto bíblico, o autor sai do estágio de ovelha dependente e “burra”. Passa ser convidado de honra a um banquete preparado especialmente para ele! Seu copo derrama de tanto vinho que lhe é servido. Pode imaginar uma ovelha sentada à mesa bebendo vinho?

Houve transformação. O convidado é tratado com dignidade e honra. Não é mais uma criatura que precisa de ser conduzida como se não tivesse juízo. Passou a ter a sabedoria de poder fazer suas próprias escolhas e aceitar convites. Aqui temos o retrato da liberdade e autonomia. Está presente à mesa por escolha própria e não por ser induzido. Não é somente mais uma “ovelha” dentro de um rebanho, mas uma criatura que tem personalidade. Escapou da massificação do rebanho.

No fim do Salmo, o autor passa a ser filho da casa. Não é mais mero convidado, é membro adulto da família! Agora o relacionamento é de interdependência e igualdade, é do amor, amor mútuo.

Jesus teve problemas com as autoridades religiosas e políticas de sua época justamente porque Ele não se deixou ser massificado. Pelo seu relacionamento com o “Pai”, Jesus deixou de ser simplesmente “bom judeu”, moldado pelos valores institucionais da sua época. Era uma péssima “ovelha” por não acompanhar o rebanho.

Nosso desafio hoje é de passarmos da primeira parte do Salmo 23 para atingirmos a última. É confortável ser “ovelha para sempre” e agirmos pelas normas da nossa comunidade. As instituições, religiosas e civis, determinam as normas que devemos seguir. Cada uma transmite seus preconceitos e tenta determinar os nossos limites. Maturidade é ter uma visão que ultrapassa as normas impostas.

Jesus, ao “morar na casa do Pai”, mesmo aqui na terra, teve uma visão do Reino Deus, cujas normas eram o amor e a justiça. Ao imitarmos Jesus, a nossa fé madura ultrapassará as barreiras que as nossas comunidades impõem. Teremos força para “sair do aprisco” e viver o amor e a justiça neste mundo que as nossas instituições não conseguem atingir. O crescimento nos conduz à outras realidades e amplia os horizontes. Passamos de “ovelhas” para sermos da família de Deus.

SALMOS 23 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)
O Senhor é o meu pastor:
nada me faltará.
Ele me faz descansar
    em pastos verdes
e me leva a águas tranquilas.
O Senhor renova as minhas forças
e me guia por caminhos certos,
como ele mesmo prometeu.
Ainda que eu ande
    por um vale escuro como a morte,
não terei medo de nada.
Pois tu, ó Senhor Deus,
    estás comigo;
tu me proteges e me diriges.
Preparas um banquete para mim,
onde os meus inimigos me podem ver.
Tu me recebes
    como convidado de honra
e enches o meu copo até derramar.
Certamente a tua bondade
    e o teu amor
ficarão comigo enquanto eu viver.
E na tua casa, ó Senhor,

morarei todos os dias da minha vida.

Nenhum comentário: