Ó Senhor Deus, eu te chamei
quando estava em profundo desespero.
Escuta o meu grito, ó Senhor!
Ouve o meu pedido de socorro.
Salmo
130.1, 2 – BLH
A nossa primeira comunicação foi abrir a boca
e dar um berro. Depois daquela primeira vez, qualquer desconforto: fome, frio,
solidão, cansaço ou dor, solicitava mais e lá vem o choro! Gritávamos até
chegar o socorro, ou, em raros casos, até cansarmos... Aos poucos, fomos sendo
educados que chorar é feio. Homem não chora e mulher chora delicadamente,
abafando seu choro com um lenço bonito! Abrir a boca e berrar, nunca!...
Aprendemos a abafar as nossas dores, nossas emoções e, até negá-las.
Na televisão, nos noticiários sobre Oriente
Médio, estranhamos ao vermos homens e mulheres chorando abertamente, como se
fossem crianças, ao carregar os restos mortais dos seus familiares e amigos,
mortos por acidente ou em atos de terrorismo. Nós, os ocidentais, nos
comportamos com mais dignidade!... Perdemos a arte de chorar (e brincar).
O Antigo Testamento, produto do Oriente, está
cheio de gritos e choros. O Salmo 130 é apenas um exemplo. Na solidão da
madrugada, sai o grito da dor, do desespero! Tudo está acabando e a dor,
insuportável... Somente Deus está perto para ouvir! Os Salmos transmitem fortes
emoções: medo, desespero, ansiedade, raiva, sede de vingança, esperança e
alegria, - do luto à dança.
Será que ao nos afastarmos de sermos
crianças, afastamo-nos de nós mesmos? Jesus falou em nos tornarmos como
crianças para entrarmos no Reino de Deus. A criança sabe o que sente e sabe se
expressar. Aprendemos, como adultos, a mascararmos os nossos sentimentos a
ponto de nem sabermos mais o que realmente sentimos. Ficamos neuróticos e
precisamos de terapia para restabelecermos o nosso contato conosco mesmos.
Este salmo está na primeira pessoa singular,
“eu te clamei”. Relata uma experiência íntima e solitária com o Divino. Há
grupos religiosos que tentam institucionalizar o clamor, convocando “clamores”
coletivos, iguais aos profetas de Balaão no Antigo Testamento. Querem
pressionar Deus a tomar uma ação como se Ele fosse indiferente a sorte humana.
O clamor do salmista era de confiança na resposta do Eterno, não uma tentativa
de influenciá-lo.
As palavras do salmista indicam que o grande
motivo do desespero era o perigo interno, não externo. Fala de pecados como
ameaça. O inimigo era íntimo. O povo estava precisando “ser salvo de si mesmo”.
Estava no caminho de autodestruição, precisando de misericórdia, de mudança de
rumo.
Muitos dos nossos sofrimentos são resultado
de males humanos, desde os nossos próprios erros até os grandes pecados da
coletividade. Fazemos parte dos males sociais, ativamente ou passivamente.
Talvez a omissão inconsciente seja tão grave quanto a conformidade e a
aceitação das estruturas sociais injustas, sem questioná-las ou resisti-las.
Muitas vezes simplesmente reclamamos a nossa situação, sem tomarmos uma atitude
mais radical. Até que ponto realmente ansiamos pela libertação dos males
internos e externos que nos afligem? Até onde estamos apenas “levando a vida”,
sem muita esperança de mudança?
A redenção começa com o grito de esperança.
Este brado nos empurra na direção da fonte da vida, a Palavra do Eterno, Jesus.
Apesar das aparências ao contrário, no fim, o amor Divino triunfará.
SALMOS 130 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM
DE HOJE 2000 (NTLH)
Ó
Senhor Deus, eu te chamei
quando
estava em profundo desespero.
Escuta
o meu grito, ó Senhor!
Ouve
o meu pedido de socorro.
Se
tu tivesses feito uma lista
dos nossos pecados,
quem
escaparia da condenação?
Mas
tu nos perdoas,
e
por isso nós te tememos.
Eu
aguardo ansioso a ajuda
de Deus, o Senhor,
e
confio na sua palavra.
Eu
espero pelo Senhor
mais
do que os vigias esperam
o amanhecer,
mais
do que os vigias esperam
o nascer do sol.
Povo
de Israel, ponha a sua esperança
em Deus, o Senhor,
porque
o seu amor é fiel,
e
ele sempre está disposto a salvar.
Ele
salvará Israel, o seu povo,
de
todos os seus pecados.
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