domingo, 3 de abril de 2016

GRITO POR SOCORRO

Ó Senhor Deus, eu te chamei
quando estava em profundo desespero.
Escuta o meu grito, ó Senhor!
Ouve o meu pedido de socorro.
Salmo 130.1, 2 – BLH

A nossa primeira comunicação foi abrir a boca e dar um berro. Depois daquela primeira vez, qualquer desconforto: fome, frio, solidão, cansaço ou dor, solicitava mais e lá vem o choro! Gritávamos até chegar o socorro, ou, em raros casos, até cansarmos... Aos poucos, fomos sendo educados que chorar é feio. Homem não chora e mulher chora delicadamente, abafando seu choro com um lenço bonito! Abrir a boca e berrar, nunca!... Aprendemos a abafar as nossas dores, nossas emoções e, até negá-las.

Na televisão, nos noticiários sobre Oriente Médio, estranhamos ao vermos homens e mulheres chorando abertamente, como se fossem crianças, ao carregar os restos mortais dos seus familiares e amigos, mortos por acidente ou em atos de terrorismo. Nós, os ocidentais, nos comportamos com mais dignidade!... Perdemos a arte de chorar (e brincar).

O Antigo Testamento, produto do Oriente, está cheio de gritos e choros. O Salmo 130 é apenas um exemplo. Na solidão da madrugada, sai o grito da dor, do desespero! Tudo está acabando e a dor, insuportável... Somente Deus está perto para ouvir! Os Salmos transmitem fortes emoções: medo, desespero, ansiedade, raiva, sede de vingança, esperança e alegria, - do luto à dança.

Será que ao nos afastarmos de sermos crianças, afastamo-nos de nós mesmos? Jesus falou em nos tornarmos como crianças para entrarmos no Reino de Deus. A criança sabe o que sente e sabe se expressar. Aprendemos, como adultos, a mascararmos os nossos sentimentos a ponto de nem sabermos mais o que realmente sentimos. Ficamos neuróticos e precisamos de terapia para restabelecermos o nosso contato conosco mesmos.

Este salmo está na primeira pessoa singular, “eu te clamei”. Relata uma experiência íntima e solitária com o Divino. Há grupos religiosos que tentam institucionalizar o clamor, convocando “clamores” coletivos, iguais aos profetas de Balaão no Antigo Testamento. Querem pressionar Deus a tomar uma ação como se Ele fosse indiferente a sorte humana. O clamor do salmista era de confiança na resposta do Eterno, não uma tentativa de influenciá-lo.

As palavras do salmista indicam que o grande motivo do desespero era o perigo interno, não externo. Fala de pecados como ameaça. O inimigo era íntimo. O povo estava precisando “ser salvo de si mesmo”. Estava no caminho de autodestruição, precisando de misericórdia, de mudança de rumo.

Muitos dos nossos sofrimentos são resultado de males humanos, desde os nossos próprios erros até os grandes pecados da coletividade. Fazemos parte dos males sociais, ativamente ou passivamente. Talvez a omissão inconsciente seja tão grave quanto a conformidade e a aceitação das estruturas sociais injustas, sem questioná-las ou resisti-las. Muitas vezes simplesmente reclamamos a nossa situação, sem tomarmos uma atitude mais radical. Até que ponto realmente ansiamos pela libertação dos males internos e externos que nos afligem? Até onde estamos apenas “levando a vida”, sem muita esperança de mudança?

A redenção começa com o grito de esperança. Este brado nos empurra na direção da fonte da vida, a Palavra do Eterno, Jesus. Apesar das aparências ao contrário, no fim, o amor Divino triunfará.

SALMOS 130 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)

Ó Senhor Deus, eu te chamei
quando estava em profundo desespero.
Escuta o meu grito, ó Senhor!
Ouve o meu pedido de socorro.
Se tu tivesses feito uma lista
    dos nossos pecados,
quem escaparia da condenação?
Mas tu nos perdoas,
e por isso nós te tememos.
Eu aguardo ansioso a ajuda
    de Deus, o Senhor,
e confio na sua palavra.
Eu espero pelo Senhor
mais do que os vigias esperam
    o amanhecer,
mais do que os vigias esperam
    o nascer do sol.
Povo de Israel, ponha a sua esperança
    em Deus, o Senhor,
porque o seu amor é fiel,
e ele sempre está disposto a salvar.
Ele salvará Israel, o seu povo,

de todos os seus pecados.

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