Nascido de uma mulher.
Gálatas
4.4
Esta imagem e seus dizeres me fascinam. Eu
gostaria de compartilhar algumas ponderações que eles sugerem. Uns podem
achá-las muito fora enquanto outros podem abraçá-las.
Nos meus primeiros anos como cristão professo
eu fui doutrinado para crer que a natureza foi corrompida pelo que aconteceu no
Jardim do Éden, que o conhecimento humano é suspeito e que a única fonte segura
de verdade é a bíblia porque é a infalível Palavra de Deus. No entanto, a
experiência de muitos anos ensinou-me que a verdade é o contrário. As
escrituras foram editadas e modificadas tantas vezes ao longo da história que
não podem ser qualificadas como autênticas. A natureza deixou gravados muitos
detalhes do nosso passado e pode nos ensinar muito. O nosso problema está em
saber como fazer as leituras e entender a sua linguagem. Parece que as pessoas
pré-históricas sabiam fazer estas leituras melhor do que nós.
Dentro da nossa tradição patriarcal os antigos
pensavam em Deus como sendo o Ser Supremo Masculino e o criador de todas as
coisas. Ele estava acima de tudo e separado da criação. As coisas materiais
(incluindo os seres vivos) eram objetos inferiores e sujeitos a sua manipulação.
O conceito era dualista, dividindo a realidade entre o espiritual e o material.
Os deuses masculinos são uma novidade recente
na longa história de mais de dois milhões de anos do ser humano. Eles
apareceram apenas a cerca de seis mil anos atrás, junto com o advento da
dominação masculina do patriarcalismo. Antes disso as sociedades eram matricêntricas. Nas mitologias mais
antigas a Grande Deusa Mãe deu à luz a terra e os céus. Tudo era gerado pelo
corpo da deusa. Deuses criadores ainda não existiam. A maternidade era sagrada,
porque somente as mulheres podiam produzir vida por meio da ação das deusas
nelas. O conceito da paternidade ainda era desconhecido. Nada na natureza era
“coisificado” porque tudo tinha a essência da Grande Mãe. O universo era visto
como uma grande família com tudo inter-relacionado. A essência da vida era
viver em harmonia com tudo e com todos, o que é contrário à nossa cultura, onde
o domínio é a marca do sucesso.
À luz das descobertas da ciência e das
pesquisas durante os últimos cem anos, acredito que as antigas culturas 1ginecéntricas, com suas deusas que enfatizavam a
solidariedade (paz e felicidade), foram muito mais perto da verdade do que o
nosso atual cultura 2androcéntrica com
seu deus que coloca o domínio (ordem e progresso) acima de tudo.
As culturas ginecéntricas das deusas percebiam o universo como sendo dinâmico,
vivo e auto organizado. O ecologista e ambientalista James Lovelock cunhou o
termo 3"hipótese Gaia" para descrever a Terra como um grande organismo
vivo. As culturas ginecéntricas
consideravam que tudo era sagrado e digno de cuidado e respeito. Em contraste,
a cultura androcéntrica trata do
universo como sendo um mero objeto a ser manipulado, organizado e dominado. Sua
filosofia é que a Terra existe para nosso benefício, e, sendo o ser humano o
centro de tudo, somos justificados em tirar tudo possível.
O nosso "Deus" androcéntrico exige ser adorado e obedecido. Ele é absoluto e pode
ficar muito zangada quando desagradado. Em contraste, a divindade ginecéntrica merecia ser amada,
respeitada e curtida como nossa mãe. Ela nos dava à luz e ela nos recebia
novamente em seu ventre quando morríamos.
Com o imperador romano Constantino (batizado
no leito da morte), a igreja tornou-se androcéntrica
e chegou a apoiar os governos e sociedades androcéntricos
ao longo da sua história. Como o resultado de tratar o universo como uma coisa
e a natureza como algo a ser dominada e explorada a terra tornou-se devastada
por guerras, poluição, superpopulação e desastres ecológicos. Nossa estrutura androcéntrica está levando a humanidade
em direção à autodestruição.
Precisamos voltar para a “casa da mãe”.
Precisamos recuperar o sentido do sagrado em toda a natureza e a irmandade de
todas as criaturas. É preciso lembrar que, por ter nascido do universo, somos
suas filhas e seus filhos e devemos tratá-lo como nossa mãe.
Voltando à frase bíblica escrita do início do
texto, ser nascido de mulher é uma
experiência universal. Gostaria de estender o termo "mulher" para
incluir todo o universo, que é basicamente feminino, porque ele é o útero de
todos nós.
1GINECÉNTRICO:
(do grego, gyno = "mulher " ou "feminino") dominado por ou
enfatizando interesses femininos ou um ponto de vista feminino. A mesma raiz de
ginecologia.
2ANDROCÉNTRICO: (grego, andro = "o homem, macho “)
dominado por ou enfatizando interesses masculinos ou um ponto
de vista masculino.
3O termo
"GAIA" vem da mitologia
grega, onde é o nome da Deusa da Terra. No final dos anos 1960, o
ecologista e ambientalista James Lovelock usou o nome em sua hipótese Gaia, que
postula que a Terra é um super organismo. Esta teoria ganhou muito apoio no
movimento ambientalista.
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