domingo, 3 de julho de 2016

PAIXÃO E COMPAIXÃO

Ofereci as minhas costas aos que me batiam
e o rosto aos que arrancavam a minha barba.
Não tentei me esconder quando me xingavam
e cuspiam no meu rosto.
Isaías 50.6 (leia 50.4-9) NTLH

Nesta meditação, empregamos a palavra “paixão” no sentido de sofrimento causado pela “compaixão”. Compaixão é o sentimento ou disposição de quem é tocado pelo sofrimento alheio e se sente inclinado a aliviá-lo. Paixão e compaixão estão intimamente ligadas. Com-paixão quer dizer sofrer com.

No pano de fundo do texto, acima reproduzido, há muitas paralelas com os dias de hoje. O povo estava desanimado e cansado pela pouca perspectiva de melhora. As crises vinham uma após outra, uma pior que a outra e nada de soluções ou alívio... Esta história se repete.

O autor, Isaías, tinha assumido o papel de “Servo de Deus”. Procurou entregar uma mensagem para reverter a situação. Mas a sua atuação somente trouxe complicações para sua vida. Ele mesmo se tornou objeto de desprezo e abuso do povo que desejava ajudar. A sua compaixão pelo sofrimento do seu povo se transformou em paixão.

Muitos anos depois, os seguidores de Jesus viram em Isaías um paralelo com a vida e o ministério do seu Mestre. Jesus, também, movido pela compaixão, entregou sua vida para salvar seu povo. Mas Ele, também, acabou sendo agredido e morto pelo mesmo povo que desejava ajudar. A cristandade adotou a cruz como o símbolo da relação compaixão/paixão.

O sofrimento é um tema comum na Bíblia. Na Bíblia na Linguagem de Hoje a palavra “sofrimento” aparece 88 vezes, “sofrer” 75, “sofreu” 13, “sofre” 12, “aflito” 28, “aflição” 65, “chorar” 65, “choro” 34, “lágrimas” 40 e “tristeza” 112. Só nestas dez palavras, o tema aparece 532 vezes. A frequência do aparecimento deste tema na Bíblia reflete a sua presença marcante na vida real. O sofrimento é uma das realidades inevitáveis da vida até hoje.

O pior dos sofrimentos é aquele que é o resultado do egoísmo humano. É justamente este que apresenta o maior desafio. Ao sentirem ameaçados, os maus apelam para a violência. O rol dos mártires é grande, dentro e fora da Bíblia. Em nossos dias é comum o assassinato de fiscais, policiais e figuras públicas honestas que ameaçam os interesses dos corruptos e dos criminosos. Mesmo dentro das instituições religiosas e beneficentes, os que desagradam os donos do poder são perseguidos e discriminados.

Correm perigo os que têm compaixão das vítimas deste egoísmo e tentam chegar até a raiz do mal. É mais seguro praticar o bem dum jeito que não ofende ninguém. Esmolas, ofertas e dízimos não ameaçam os donos do poder.

Até que ponto vai a nossa “com-paixão”? A nossa esperança está com aqueles que fazem o papel de Isaías e de Jesus na sociedade fora das igrejas, nas ruas onde anda o povo sofredor e injustiçado.

ISAÍAS 50.4-9 – NOVA TRADUҪÃO NA LINGUAGEM DE HOJE 2000 (NTLH)

O Senhor Deus me ensina o que devo dizer
a fim de animar os que estão cansados.
Todas as manhãs, ele faz com que eu tenha vontade
de ouvir com atenção o que ele vai dizer.
O Senhor Deus me deu entendimento,
e eu não me revoltei, nem fugi dele.
Ofereci as minhas costas aos que me batiam
e o rosto aos que arrancavam a minha barba.
Não tentei me esconder quando me xingavam
e cuspiam no meu rosto.
Mas eu não me sinto envergonhado,
pois o Senhor Deus me ajuda.
Por isso, eu fico firme como uma rocha
e sei que não serei humilhado,
pois o meu defensor está perto.
Alguém tem uma causa contra mim?
Então vamos juntos ao tribunal.
Alguém quer me processar?
Que venha e apresente a sua acusação!
O Senhor Deus é quem me defende,
e por isso ninguém poderá me condenar.
Todos os meus inimigos desaparecerão;
serão como um vestido que as traças destruíram.



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